Canibytes

Imagens que consomem (texto de 1998).

JANEIRO, 2000

Esse projeto nasce com o surgimento da câmera digital e as consequentes discussões que se sucederam a respeito de uma nova forma de captação e de uma nova linguagem; Discussões essas que em sua superficialidade deixaram de lado o papel do indivíduo dentro da sociedade contemporânea, e as consequências nos mais variados âmbitos, para abordar comparativos meramente técnicos e equívocos conceituais. Discursos sobre a socialização da produção e do acesso à tecnologia deixaram de lado, dentre outras muitas coisas, a percepção do sujeito em um universo cada vez mais simbólico.
Baseado nesse cenário e com um equipamento digital em mãos eu me proponho a fotografar fragmentos do meu próprio cotidiano que eu próprio não mais percebo, sem eleger meus objetos conscientemente. Dessa forma proponho a inversão entre sujeito e objeto no ato fotográfico, onde sou eleito pelo objeto para fotografá-lo. Ao desconstruir as imagens pela câmera tecnicamente desconfigurada, afasto a possibilidade de imagens contemplativas, ou previamente pensadas e ao apresentá-las, devolvo ao espectador, meu cotidiano fragmentado aleatoriamente e representado pela linguagem fotográfica digital, como uma espécie de convite à reflexão, onde cada um poderá reconstruir um pequeno e novo universo de signos a partir da experiência individual Dado o estado de catarse que vivemos, submersos a um universo essencialmente simbólico, com a crescente perda do juízo percepto, essa foi a maneira de fazer minha autocrítica e estimular a percepção dos espectadores. De maneira simplista, não mais consumimos imagens, mas somos consumidos por elas, diariamente.